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about
Música de Ivo Senra
Letra de Pedro Sá Moraes
lyrics
A língua maior do que a boca
É mãe da ressaca moral
que ao jogador sempre toca
se lhe falta cabedal
E o asno da mente empaca
Por desdizer o já dito
O que é lâmina de faca
No cabralino contrito
Então, de caraminholas
tentando-me ver liberto
Compus em verso pachola
um duelo de alvo incerto:
Encontram-se numa sala
o professor e o aluno
E quanto mais este fala
À beira do inoportuno
Aquele mede o caminho
da correição nas paredes
e um suspirar bem baixinho
a sua fala antecede
Do muito que se sabe
quase tudo - ou tudo -
cabe na gaveta da história
história da idéia
idéia que precede os fatos
o belo, pra começar, então:
quantas vítimas já não padeceram
dessa convenção?
………………………………
Desejo, no encetamento
A vós e vossa família
Da saúde, cem por cento
da sorte a melhor partilha
E peço, que atrevimento!
entretenha esta cartilha
Tipo assim, um argumento
Em alforje de redondilha
Não seja tipificado
por minha ânsia do elevado
Ou cingido lado a lado
com funestos guardiões
De instituições caducas
ideais ultrapassados
armadilhas e arapucas
De altas civilizações
Não seja o indesejável
ainda recém chegado
hóspede mal ajambrado
genioso e irascível
Arrogando-me o direito
por ardor embriagado
de apontar um rei pelado
onde não se vê defeito!
Pois eu sei que o tempo passa,
e os pecados esmiuça
não sou pedra, sou vidraça
e me cabe a carapuça
Mas será, não obstante,
que no fundo breu do chão,
de carvão a diamante,
a larga transmutação
não carece ter dos anos
o peso por compressão?
Que apesar de tantos danos,
façamo-lhes distinção?
Legados de séculos...
- De quem? Por quem? -
Guardados
- A que preço? -
pilhados à vasta história do mesmo
Romancistas, poetas
engalanados do cosmos branco
dos feitiços de brancos
cavando espaços
pelas amplitudes metafísicas
Nas cartas do vigário
tentamos ter a compreensão
do índio primeiro
O índio não fala
na fala do jesuíta em seu nome
- na hora já madura -
Só a voz, a voz do outro
redimirá nossa cultura
Sei bem do prado infinito
que escapa à compreensão
deste pensamento aflito
por um céu e por um chão
Mas se não somos quem somos
e a nós mesmos evitamos
na busca de redimirmos
os danos que já causamos...
Se julgamos nossa herança
por aquilo que lhe escapa
não miramos na bonança
e acertamos na zurrapa?
Os temores me acometem
com fundamentos empíricos
se ao sonhar valores d'outrem
acordaremos inválidos
Se ouvimos desconfiados
as verdades que nos sopram
os nossos antepassados
outras crenças nos manobram
Sem que delas demos conta:
a superação da história
pela multiplicidade
da cultura e das memórias
Eis-me aqui, triste figura,
e pode que esteja errado
Não vos digo por mesura
mas por haver encontrado
no meu fado a rocha dura
de um rei que não tem reinado
de um quadro que é sem moldura
de um pássaro desgarrado
Só me valho por escusa
do meu coração exausto
minha fúria, minha musa
certo complexo de Fausto
Enfim, se ainda se usa
ofertar de ocasião
um ramalhete de glosas
não sei, mas de coração
Oferto e nada pretendo
que a vós a vossa família
Da saúde, cem por cento
da sorte a melhor partilha
(E assim finda o argumento
No alforje da redondilha)
credits
from
Todo Mundo é Bom ,
released September 21, 2016
voz: Pedro Sá Moraes
sintetizadores e programação de bateria: Ivo Senra
pandeiro: Sergio Krakowski
license
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